por Robson Almeida

O ano era 2020. Metade do mês de julho. Eu tinha me programado para sair de férias a bordo da Lady Thatcher (Classic 500 battle green) de Itajaí-SC a Rio Grande-RS. Não seria apenas um deslocamento. Tinha programado várias paradas, visitar cidades que não devem deixar de ser visitadas pelos desbravadores dessas BRs de meu Deus: Canela, Gramado, Urubici, Urupema… Não necessariamente nessa ordem, é claro.

Em março foi decretado o tal do Lockdown, tão esperado para combater a pandemia. Vã crença (deixo claro, sem posicionamento político), como pudemos perceber 14 meses depois. Iria eu deixar de fazer minha viagem então? Claro que isso estava fora de questão. Então, voltamos à fase de planejamento. Litoral paranaense? Fechado! Então vamos para o interior do Paraná. Fechado! Rio Grande do Sul? Muitas cidades em bandeira vermelha (sistema de cores para indicar o grau de risco das cidades na pandemia). Santa Catarina, mesmo com algumas cidades adotando medidas restritivas, me pareceu o melhor destino. Então estava decidido! Itajaí, Brusque, Botuverá, Vidal Ramos, Imbuia, Rio Bonito, Alfredo Wagner, Bom Retiro e Urubici para o primeiro dia de viagem.

Na mochila pouca bagagem. Poucas ferramentas (só o necessário para eventuais furos de pneu) e casacos pois o frio estava latente em julho. Tenho facilidade pra compreender os fenômenos meteorológicos e para saber quando virão (não somente olhar a previsão no tio Google), então, eu sabia que iria enfrentar um frio daqueles em Urubici. Sem problemas! Hostel reservado, cantil com água, outro com Rum e um par de luvas comprado após acreditar no vendedor que era para frio intenso! #SQN.

15 de julho.

SC-486, Brusque… trânsito! Café pequeno para mim e para a Lady Thatcher. A moto tem a malemolência de uma moto pequena e leve (mesmo batendo 200kg) e tirei de letra pequenos congestionamentos só com o gingado da Classic. Não me entendam mal: conheço engarrafamentos de grandes metrópoles e reconheço que aquele congestionamento (chego a desdenhar chamando apenas de retenção) não chega aos pés do que o leitor encontra na sua megalópole. Mas é o que temos (e que bom!) para a região do Vale do Itajaí.

Logo Brusque ficou para trás e eu já estava em Botuverá. Cidade charmosa, pacata, limpa e acolhedora. Padrão na nossa região. Segui na, por enquanto asfaltada, SC-486 quando, ao passar da entrada das grutas de Botuverá, o asfalto deu lugar a uma estrada de chão batido.

Ótimo!

Estava mesmo precisando de uma aventura. Minha experiência em moto naquele dia somava 9 meses! O mesmo intervalo de tempo que estava com Lady Thatcher, minha primeira moto. E no barro, acho que deveria ter uns 40km, arredondando pra cima e trazendo farinha pro meu bolo. Uma bela vista! A rodovia subia e descia a serra. Trechos estreitos, pequenas casas com cercados singelos, cachorros latindo, às vezes avistava um córrego… Eu e a moto. Ela, calçada com os pneus originais projetados para asfalto e eu já me achando o vencedor do Cerapió.

Precisamos descer do nosso pedestal e com humildade enfrentar o primeiro desafio.

Sabe aquelas pedras brita? Algumas maiores revestiam toda a estrada já próximo de umas fábricas de cimento que tinham por lá. Entendi o que aconteceu: puseram pedras em quase 15km da estrada, para que, com o trânsito de caminhões (já intenso naquela área) elas fossem esmagadas e prensadas, deixando a estrada um brinco! Só que tinham acabado de colocar. Pedras soltas e pontudas. Caminhões passando na estreita estradinha. Poeira. Moto sem controle.

Sorte de principiante e só saí de lá com uma pedrada na viseira! O caminhão passou e com a velocidade o pneu arremessou uma pedra no meu capacete. Se fosse o aberto, teria arrebentado o nariz, tanto pela velocidade do impacto como pelo formato irregular do projétil.

Passado o trecho crítico, com o sangue mais fino, a alma batizada, o espírito mais forte e a cueca fre… (Pula essa! kkkkkkk) peguei belo de um asfalto e parei pra foto em um mirante em Vidal Ramos. Dali em diante, foi só alegria e vida mansa! Asfalto bom, curvas suaves, plantações, céu azul, tempo frio. Poucas paradas para abastecer e tomar café.

Chego no hostel em Urubici, deixo os alforges e tomo o rumo do Morro do Campeche para apreciar o crepúsculo. Compro um lanche, uma garrafa de CAMPO LARGO, acendo meu cachimbo e começo a rir da loucura das pedras soltas.

A anfitriã me deu cinco cobertores! Acendeu o forno a lenha e na metade do CAMPO LARGO, olho para o telefone e vejo: 20h45, Urubici 4ºC.

Fui lá fora sentir na pele e além de ver o céu completamente estrelado, constatei que o celular estava quebrado. Meu termômetro biológico indicava 2ºC com baixa umidade do ar, daquela que vc ri e o lábio sangra.

Depois voltei pra dormir.

Logo postarei a segunda parte!

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