Fugi da quarentena. Fui com a Eva por terra até Maria da Fé.
Foram mais ou menos 60 km de terra e uns 15 de asfalto, evitando contato com outras pessoas.
Nada melhor que uma voltinha solitária com a Eva pelas estradas de terra do sul de Minas Gerais… A gente acha cada cantinho que parece que é outro mundo… Parece que o tempo parou por estas bandas…
Maria da Fé é conhecida pela excelente gastronomia, produção de azeite e pelo frio durante o inverno. A cidade vive cheia, mas desta vez tive dificuldade de entrar nela. Tinha um bloqueio logo no fim da estrada de terra que vem de Itajubá. A moça pediu para eu tirar o capacete para medir a minha temperatura. Deu 37,2 graus…
- Você está febril – disse ela horrorizada.
- Tô não… – respondi
- Tá sim! Mais de 37 é febre! – argumentou ela.
- É por causa do capacete. Estava andando com ele fechado e a parte acolchoada fica bem onde você apontou o termômetro – disse eu.
- Mais de 37 não pode entrar – decretou a moça.
- Posso ficar aqui então? – perguntei inocentemente.
- Aqui? Na barreira? – disse a moça, desconfiada como toda boa mineira.
- Sim… desde lado de cá – disse eu.
- Uai, pode né… – foi a frase que acompanhou aquele olhar de revesgueio.
Fiquei ali por meia hora, esperando a temperatura na pele da minha testa estabilizar de novo. Então, certo que a boa e velha termodinâica havia feito o seu papel, me dirigi para ela e disse:
- Posso entrar agora?
- Num pode moço. O senhor está febril – negou a eficiente fiscal de testas.
- Você pode medir a minha temperatura de novo – pedi eu com aquela cara do Gato de Botas no filme do Shrek (o verde, não o Carboteiro).
Ela pegou o termômetro novamente e, para a sua mais imensa supresa, a temperatura medida foi 36,7 graus.
- 36,7! Ué? O que aconteceu? – perguntou a incrédula jovem, impotente frente a poderosa física.
- Sarei! – respondi faceiramente.
- Posso ir agora? Está menos que 37 – completei.
Apesar de estar certa que eu era um bruxo alquimista, a moça vagarosamente baixou a faixa que fazia vezes de cancela e me deixou passar. Estava, enfim, em território urbano.
Mas tratei de sair de lá rapidamente, e com o máximo de distância de outras pessoas… A amedrontada mineirinha poderia ter se comunicado com seus superiores e eu poderia ainda sofrer nas garras da inquisição mariense. Então, logo eu estava na terra de novo.
Ainda passei por uma escola rural abandonada, antes de chegar em Santa Rita novamente.
Esse foi um delicioso passeio para relembrar dos meus tempos de XTZ125 e XRE, quando eu rodava despreocupado pelas estradas de terra, sem saber bem onde eu ir dar, se o caminho era razoável ou se era um pirambeira… Tudo isso por que eu tinha certeza que, com a Eva, nada poderia me parar… a não ser o temível termômetro da barreira de Maria da Fé.